29/12/08

Rituais

De manhâ:
A Emma já costuma estar a choramingar à porta do nosso quarto porque tem fome e o Sushi acompanha-a com um coro de bocejos que mais parecem barulhos feitos por um hipopótamo.
Mal abro a porta, desatam os dois a saltar e a abanar-se todos (não só a cauda, mas o corpo todo) porque já sabem que vão comer. Ficam quietos quando estou com os pratos deles na mão, sentam-se, babam-se até... e, claro, depois limitam-se a ligar o aspirador. Como a Emma começa a comer primeiro (privilégios de líder) e come menos, quando acaba a dose dela quer sempre ir à do Sushi. É preciso estar por perto para a impedir, porque ele deixa-a. Às vezes ele passa fome, ela morfa dose dupla e engooooorda.
Segue-se o passeio e eles sabem. Costumava passeá-los juntos, excepto nos dias de chuva, em que precisava de uma mão livre para o guarda-chuva. Mas hoje em dia, excepto em manhãs mais apressadas, opto por levá-los sempre em separado. Portam-se melhor e faço menos figuras tristes na rua (ou seja, sou arrastada por um de cada vez). Por isso, a Emma vai primeiro, depois vai o Sushi. Se a Emma se tiver portado muito mal durante a manhã, é possível que fique de castigo e leve só o Sushi... O dono tem vindo a partilhar cada vez mais vezes esta árdua tarefa de os passear de manhã. É um catch22 porque quem fica em casa, limpa a cozinha.

Regresso a casa:
Durante o ano lectivo, sou eu que chego primeiro. Quando estou na entrada do prédio já os oiço... Vêm ambos cumprimentar-me à porta e a cena é bastante parecida com a da manhã. Claro que a Emma salta-me mais para cima e o Sushi limita-se a levantar as patas alguns centímetros do chão e nunca na minha direcção. Pudera...
Dou-lhes comida, levo-os à rua, limpo a cozinha - não necessariamente por esta ordem. O pobre do Sushi acaba por sofrer por tabela e, mesmo portando-se melhor, tem de esperar pela vez para comer e passear.
Em época de férias da faculdade, o dono chega primeiro e trata dos meninos. Sabe-me lindamente porque quando chego a casa só tenho de fazer o jantar.

Ao serão:
A Emma pede sempre para ir à rua quando estou a jantar. Calço-me, visto-me, pego nela (é um malabarismo para o Sushi não sair também) e trago-a só até ao estacionamento em frente ao prédio. Não chega a ser um passeio, mas significa que é menos uma vez que ando de esfregona em riste...
Depois de jantar, fazem-me companhia na sala. A Emma adormece no lugar vazio do dono no sofá Divanni Divanni forrado com uma capa para o colchão (se a única forma de ela estar sossegada é deixá-la ir para o sofá, então toda a criatividade serve na hora de proteger o nosso investimento). O Sushi adormece no chão, junto ao sofá. Às vezes eles andam na galhofa os dois ou então começam a atrofiar com os cães que passam na rua. Invariavelmente, quando o dono mete a chave à porta eles dão logo o alerta.

Hora da caminha:
O dono leva-os a passear uma última vez. Costumo despedir-me deles com muitos beijinhos e abraços, ponho as mantinhas nas respectivas camas (durante o dia guardamo-las porque a Emma gosta de as roer e sujar), encho o recipiente da água e baixo um bocado mais os estores da cozinha. Eles sabem o que significa "ir para a caminha" e por isso vão-se deitar quando nós nos deitamos. A casa fica às escuras e em silêncio. Dantes, ouvia a Emma pela casa fora durante a noite - primeiro à nossa porta, depois deitada na base do móvel do hall (que sempre foi a sua segunda cama) e, por fim, ouvia-a a ir para a cama. Nos últimos tempos, noto que simplesmente se deitam e só acordam no dia seguinte.

E é quando tudo recomeça.

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