14/10/10

Um bicho de sete cabeças...

Tudo começa com um casal nosso amigo. Por acaso o Dono até conhece o sujeito há coisa de 20 anos, mas isso é só um pormenor. Eu e a respectiva entrámos em cena mais tarde. Conheci o Dono quando eles os dois se conheceram, depois veio a fase do namoro, depois o s respectivos casamentos. Há 4 meses nasceu a filha deles. O Dono foi convidado para ser padrinho.
Hoje era suposto mãe e filha virem visitar-me. Eu estou em casa, mais concretamente na cama, o dia todo sem fazer grande coisa, portanto as visitas são o highlight do meu dia. Mas a medicação do Sushi tinha acabado, o vet não tinha mais em stock e eu tinha de o manter debaixo de olho at all times antes que ele se apanhasse sozinho e começasse a lamber as feridas outra vez e o tratamento fosse todo por água abaixo. Então peguei no telefone de manhã e pus-lhe a coisa nestes termos:

- Eu sei que normalmente fecho os cães num quarto quando cá vens visitar-me, mas hoje não posso mesmo deixar o Sushi sem vigilância (e expliquei o motivo). Portanto em vez de te apresentar um facto consumado estou a dar-te a hipótese de decidires se queres cá vir com a bebé sabendo à partida que o Sushi vai estar solto. Já o conheces, sabes que ele é super meigo e calmo, que não salta, não morde, não chateia ninguém, mas achei melhor deixar à tua consideração. Se preferires, vens cá visitar-me num dia em que ele esteja medicado e eu saiba que posso deixá-lo sozinho sem que ele desate a automutilar-se outra vez.

E antes de lhe ligaar eu já sabia que ela não viria. Da mesma forma que sabia que se fosse qualquer outra pessoa nem seria preciso ligar de propósito a perguntar. Da mesma forma que sei que é minha amiga e é boa pessoa e que na teoria gosta de animais, mas no fundo é mais uma daquelas pessoas que faz um bicho de sete cabeças em relação ao binómio animais-crianças. E por isso estou desejosa que a Danoninha nasça, que cresça a brincar com os seus dois póneis, que eles comam a papa que ela deixe cair ao chão, que eles me venham avisar quando ela estiver a chorar, que todas as pequenas coisas do dia-a-dia na nossa casa com a nossa família de 5 membros provem a todos os que quiserem ver com olhos de ver que não é preciso fazer um bicho de sete cabeças. Essa será a minha luta até ao fim. Como costuma dizer o Dono a gozar: "Sim, como se fossemos o primeiro casal na história da Humanidade a ter cães e filhos. Deve ser mesmo inédito, por isso é que toda a gente nos pergunta como é que vamos fazer."

A ironia? Esse mesmo casal vai passar o próximo fim de semana com o nosso grupo de amigos e vai lá estar um rafeiro alentejano muito maior do que o Sushi e um outro cão de porte médio ainda muito novinho e eléctrico que pelo que já o conheço vai fartar-se de saltar e de lamber e fazer disparates. E aí quero ver quem consegue controlá-lo ou "proteger" a bebé dele.

Ter medo do Sushi? DO SUSHI???

Ponho as minhas mãos no fogo por este cão, atiro-me para a frente de um carro para o salvar, confio nele para me proteger a mim e à Danoninha de quem ousasse tentar fazer-nos mal. É para verem o quanto amo o meu cão. Mas isso sou eu. Nem toda a gente é obrigada a pensar assim ou a sentir o mesmo por ele, como é óbvio. Reparem que não digo o mesmo em relação à Emma, porque a conheço e sei como é bruta e tresloucada. Não sou fundamentalista nem obtusa. O cão é meu, mas a filha é dela e eu respeito isso. Mas a mim irrita-me o preconceito. E aqui entre nós também me preocupa a ilusão de que se pode proteger os filhos de tudo, quando na verdade tudo o que podemos é dar o nosso melhor e aceitar que às vezes eles vão cair ou alguém vai ser cruel para eles na escolinha ou vão ficar doentes ou sei lá. Ou um cão com o focinho húmido vai querer cheirá-los e dar-lhes uma lambidela. Ui, cruzes credo!

2 comentários:

Lígia disse...

Eu, quando me visita alguém que não aprecia animais/não gosta dos meus/whatever, dou por mim a deixá-los saltar e tuditudi e depois "aaiii descuulpa, não vi!" ou "ela para já de saltar", lol, quando sei que não vai ser assim...por mim, se não quiserem vir cá mais vezes, não me chateia nada...Love me, love my dogs, right? A sorte é que os meus amigos, amigos mesmo, gostam de animais e adoram as minhas meninas!:)

Sónia disse...

Não percebo esse tipo de "preconceito". Sinceramente ultrapassa-me. BJ