03/08/09

Amor incondicional


Quem visita este blog com regularidade, embora não me conheça pessoalmente, já percebeu o quanto os meus cães são importantes para mim.

Sempre adorei animais, mesmo antes de ter a Emma, mas desde que a tenho, não há como negar que a rotina mudou muito lá em casa e que ela foi a responsável também pela mudança na nossa disponibilidade e até as nossas prioridades. Foi também o meu amor por ela que me levou a entregar-me progressivamente ao voluntariado pelos animais, o que por sua vez nos levou a adoptar o Sushi.

Enfim, os nossos cães contribuíram para o nosso sentido de família. Somos 4 lá em casa, é tão simples quanto isso.

E o trabalho, a despesa, a preocupação, seja o que for, que eles dão, perde por comparação em relação ao amor com que eles retribuem. E se ainda faltassem provas, agora tive mais uma de como esse amor é MESMO incondicional.

Tivemos de levar o Sushi ao veterinário por causa da(s) ferida(s) que ele tem na(s) pata(s). Sim, agora já não é só numa, já se alastrou para três. Como achámos que o tratamento que fizemos quando, há uns meses, a primeira ferida apareceu numa das patas não foi 100% eficaz, decidimos pedir uma segunda opinião. Levámo-lo ao novo Hospital Veterinário de Oeiras, que é dirigido pelo primeiro veterinário que a Emma teve.

O diagnósitco dele foi imediato e inequívoco: o Sushi sofre de uma depressão causada por ansiedade de separação.

E eu comecei por dizer que não havia motivo nenhum para isso. Ele tem a companhia da Emma durante o dia, come bem, sente-se seguro, tem mimos dos donos, não mudou nada na nossa rotina que pudesse ser uma fonte de stress... e depois parei a meio do raciocínio. É que a caminho do veterinário eu e o Dono tínhamos especulado sobre a origem das feridas, que tanto poderia ser um fungo como algo do foro nervoso, e também sobre quando tudo tinha começado, concluindo que tinha sido quando eu recomecei a trabalhar fora de casa. Ora, o veterinário não sabia de nada disto, mas quando o comentámos com ele, fez-se luz.

O Sushi sente a minha falta em casa. É simultaneamente querido e angustiante. Não me quero sentir culpada por trabalhar. Não me quero sentir culpada por o ter mimado de mais. É por isso que ele anda tão carente, tão pedinchão. E eu ando a ceder a tudo o que ele pede, a dar-lhe atenção sempre que ele pede, nunca me ocorrendo o que se estava a passar na cabeça dele. Penso sempre nele como um cão que já passou por muito, que veio da rua, que não teve um berço de ouro como a Emma, e que por isso merece tudo o que eu lhe puder dar. Mas, como o veterinário muito bem disse, ele já não é um cão da rua, coitadinho, abandonado, sofrido, etc etc. Ele está connosco há quase um ano. Ele é o nosso cão.

Agora não só vai ter de tomar anti-depressivos, como temos de alterar as rotinas de entrada e saída de casa (ou seja, os momentos de reencontro entre o dono e o cão). Ignorá-los quando chego a casa vai certamente custar mais a mim - a licenciada em mimos - do que a ele ou à Emma, porque isto vai afectá-la também. Os livros falam nestas coisas, eu já sabia tudo isto, mas não o punha em prática. Caí no erro de tantas pessoas e deixei que a minha perspectiva humana se sobrepusesse à lógica canina. isto é, se de cada vez que entro em casa e o meu cão exige festas eu lhas der, estou a admitir que ele manda, quando o que na realidade devia fazer era mostrar-lhe que dou-lhe festas sim, mas quando eu decido e não quando ele pede. Parece cruel, mas faz sentido. O que se está a passar lá em casa é que o Sushi subiu na hierarquia em relação a mim. Acho mesmo que agora quem está mais abaixo sou eu (qualquer coisa como: o Dono, depois a Emma, depois o Sushi e por fim eu...)

Poderíamos encarar isto assim: o meu cão tem uma depressão porque não sou uma stay-at-home-owner... Mas na realidade é muito mais do que isso. Muitos donos não se apercebem de que alguns comportamentos dos seus cães têm origem nos comportamentos dos donos e que é facil restabelecer o equilíbrio de forças e a paz em casa. Muitos casos de abandono poderiam ser evitados se as pessoas lessem mais, consultassem especialistas, enfim, se esforçassem...

6 comentários:

Anónimo disse...

Com gatos é igual! A minha gata tem ficado doente nas minha férias!
Sem razão aparente! Segundo o Vet. são sempre as saudades da dona! Comecei a deixar roupa usada, t-shirts e tal para ela dormir! E o Avós reforçam os mimos! Tem resultado! Claro que é mais simples que o Vosso caso, mas para mim tb foi/é uma preocupação quando vamos para fora!

Alice disse...

Estas coisas são sp complicadas. O Pepe quando estive agora de férias passou uma semana sem comer e sem sair de baixo das mantas, cobertores e tudo o que lhe aparecesse à frente. Eles têm sentimentos (embora mta gente se esqueça disso) e têm a sua forma de reagir aos stresses passados e presentes(o que não é o caso).
Pode parecer cliché mas o Sushi é muito amado e de certeza quet tudo se resolverá pelo melhor. Não tenho qualquer dúvida.
De qualquer das formas estaremos aqui com a gataria para dar apoio moral.

Beijinhos e marradinhas

Dona Mãe Babada disse...

é impressionante como eles são sensíveis, não é? e já soube de casos com gatos em que isso ainda se nota melhor. O gato de uma voluntária do SOS Animal vira-lhe as costas de propósito (enquanto às visitas faz uma festa incrivel) só para lhe mostrar que sente ciúmes por ela ser FAT e dar atenção aos gatos k leva para casa ate serem adoptados.

JPinto disse...

É complicado, mas vai acabar por habituar-se. De qualquer forma cuidado com as drogas...

Coimbra Space

Van Dog disse...

É verdade que há coisas que, depois de sabermos, fazem sentido. Mas os humanos nunca lá chegariam sem ajuda, porque é um pouco contrário à sua lógica.
E é bom partilhares - informação é sempre bom, e é bom saber que, quando há um problema, há quem possa ajudar a descobrir uma solução que se calhar nem é muito complicada de implementar.

Agora que deve custar um pouco ignorar a canzoada quando chegas a casa, deve custar... Mas é por uma boa causa!

AP disse...

Já passei por uma situação igual e não é fácil. A minha cadela tinha um comportamento mais irreverente, destruia tudo na minha ausência! Demorou muito tempo até estar tudo ok. Basicamente é preciso muita força de vontade (não é fácil contrariar certas coisas que gostamos de fazer a eles) e muita paciência.
Aos poucos ele irá melhorar :))